terça-feira, 1 de julho de 2014

[Resenha] "Noites Negras de Natal e outras histórias" & "Duas Doses de Amor"


Hoje resolvi fazer uma resenha dupla, o que vem a calhar, já que são duas obras de uma dupla de talento incontestável. E quando comparamos os dois trabalhos a seguir, percebe-se que além do talento, as escritoras demonstram uma grande versatilidade.



Resenha 1: Noites Negras de Natal e outras histórias

Um casal numa jornada sombria, um jovem isolado com os sobrinhos em um sítio macabro no interior de Minas, operários numa obra suspeita e uma mulher amaldiçoada. São esses os personagens que você vai encontrar em Noites Negras de Natal e outras histórias. Nessa coleção de 4 contos, as escritoras Karen Alvares e Melissa de Sá se lançam em histórias sobre o que tem no escuro da noite e atrás da porta. 4 contos de terror, dos quais 2 são especiais natalinos. Do que você tem medo no Natal?

Editora: Independente/Amazon
Gênero: Horror, Suspense
Ano: 2012
Páginas: 64
Nota: 5/5



Medo e horror em natais pra lá de sombrios

“Noites Negras de Natal e outras histórias” é uma coletânea de quatro contos de horror, dois escritos por Karen Alvares, e outros dois escritos por Melissa de Sá. As autoras mostram grande sintonia e uma qualidade uniforme, de modo que os textos são todos ótimos, independente de quem seja a autora da vez. Cada conto trata do medo e do horror sob uma ótica diferente, o que garante uma leitura sem um segundo sequer de monotonia.
Vamos aos contos:


O Último Panetone de Natal (Karen Alvares)
Este conto traz uma história de horror típica, começa na estrada, depois em uma pensão em meio ao nada e... digamos que coisas estranhas acontecem.

Mas, a despeito desses elementos utilizados frequentemente, Karen destoa de outras histórias, apresentando uma personagem amargurada, com feridas do passado que ainda não cicatrizaram. Misturado a esse clima denso e tenso, elementos que fazem da autora, além de sombria, pop; como Ramones e The clash tocando no som do carro e um fusquinha chamado azeitona.  A pura verdade é que realmente não dá pra ouvir I wanna be sedated sem balançar a cabeça, assim como parece impossível ouvir Should I Stay or Should I go sem bater o pezinho.

Na pensão, um típico clima sombrio. Uma velhinha e seu netinho e nenhum hospede além dos protagonistas. Quando o horror começa, tudo fica muito assustador, a sequencia de acontecimentos é asfixiante, culminando em um desfecho extremamente surpreendente.


Lembranças Vermelhas (Melissa de Sá)
“Lembranças Vermelhas” nos apresenta a um natal em família onde as coisas não acontecem bem do jeito
Melissa de Sá
que os personagens esperavam. Julian se vê obrigado a passar o natal com seu irmão André e família, mesmo que ele preferisse estar em qualquer outro lugar, menos ali.

Melissa nos insere na vida dos personagens de uma forma magistral, com um humor inteligente e um texto verossímil, com primor tanto na forma quanto no conteúdo. A companheira estrangeira do irmão, os filhos nada agradáveis e o pedantismo de André são descritos de uma forma muito interessante, e que faz com que possamos nos divertir com o mau humor de Julian.

Quando Julian fica sozinho com as crianças, então entra em cena o verdadeiro terror. A autora nos ambienta em uma casa de fazenda de forma hábil, sabendo quais detalhes são importantes para a imersão do leitor, e o que é desnecessário, deixando o texto conciso e dinâmico.

O final é ótimo, mantendo a qualidade da história da primeira à última linha. Depois de ler esse conto você nunca mais vai ver renas de plástico com os mesmos olhos e vai evitar ficar sozinho com quadros antigos que nos seguem com o olhar.


Setor B12 (Karen Alvares)
Karen Alvares
Um conto mais urbano, onde a autora consegue abordar temas como o desemprego, e ainda assim garantir uma divertida e terrível leitura de horror. Um desempregado consegue emprego em uma obra, para seu alívio. Mas logo mortes estranhas começam a ocorrer no local, o que leva alguns dos trabalhadores a procurarem respostas.

Então somos apresentados ao mal que assola a obra, e temos uma sequencia de tirar o fôlego, além de assustadora. Mais uma vez Karen mostra que nasceu para escrever, e entrega uma história que prende a atenção desde o seu início, eleva a tensão em determinado momento e mostra um desfecho que não decepciona.

Assustadoramente ótimo.


A Morte do Cisne (Melissa de Sá)
O último conto do livro destoa dos demais. Mas, atenção, não me refiro à qualidade, pois “A Morte do Cisne” conserva a alta qualidade das outras histórias, e fecha maravilhosamente bem o livro.

“A Morte do Cisne” é uma história de fantasia, que a primeira vista pode se parecer com diversas do gênero, mas na medida em que avançamos na leitura, adentramos um ambiente sombrio, com segredos sórdidos e assustadores.

O desfecho é de arrepiar e suficiente para que eu diga: Melissa, eu sou seu fã.



Resenha 2: Duas doses de amor

New York, 1930. Santos, 2014. Uma pista de dança cheia de energia, um orelhão anônimo e orelhudo. O que tudo isso tem em comum? Eles serão testemunhas do começo de dois romances apaixonantes. Fique à vontade e sirva-se dessas Duas Doses de Amor!

Editora: Independente/Amazon
Gênero: Romance
Ano: 2012
Páginas: 20
Nota: 5/5


“Duas doses de amor” nos traz dois contos românticos, um de cada autora, mostrando toda a versatilidade dessas jovens e talentosas escritoras.


Era para ser você (Melissa de Sá)

O conto que abre o livro se passa no ano de 1936, em Nova York. Melissa consegue, em poucas linhas, nos ambientar ao local e à época com exímia habilidade. Apresenta os personagens de forma clara e concisa, e trabalha o texto com muita sensibilidade.

Vemos aqui o humor inteligente já percebido em outros textos, porém agora utilizado em prol do romance. A arte da literatura se encontra com a arte da dança, e a autora consegue dar um ritmo musical à narrativa.

O desfecho é suave e belo, e deixa o leitor com um tremendo gostinho de quero mais.


O Orelhão (Karen Alvares)

Em “O Orelhão”, Karen novamente mostra como uma situação trivial pode render uma história rica e interessante. Um conto divertido, rápido e super bem escrito.

Mesmo sendo um texto curto, podemos identificar bem a personalidade dos personagens e embarcar no divertido conflito entre dois desconhecidos em um dia chuvoso.

“O Orelhão” mostra que o amor pode tocar as pessoas nos momentos mais improváveis e das formas mais inusitadas possíveis. Assim como o conto da Melissa, fica um gostinho de quero mais. E que venham mais e mais obras dessas duas autoras de grande talento.


Saiba mais sobre as autoras e seus trabalhos em:


Confira AQUI a entrevista que eu fiz com a Karen Alvares ( A Melissa de Sá ainda está me devendo uma entrevista :D )

2 comentários:

  1. Samuel, mais uma vez obrigada pela sua atenção na leitura dos nossos textos. É a partir de iniciativas como a sua que a literatura nacional está ganhando forma na mídia.

    Um grande abraço!

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    1. Que isso, Melissa. Eu é que agradeço a você e à Karen por escrever histórias tão boas. Lerei Space Opera em breve ^_^

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